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[RESENHA] O TERRORISTA DE BERKELEY, CALIFÓRNIA - PEPETELA

21:43:00
Sinopse: E ele gostava de ficar sentado algum tempo, encostado a um tronco, olhando a enorme baía em toda a sua extensão e pensando na vida. Por vezes conversava com um esquilo mais atrevido que vinha lhe pedir comida, entrevistava bandos de codornizes, cada vez mais raras, é preciso que se diga, ou até descobria alguma esquiva corça. E entendia naquela paz, com barulho dos carros e das cidades muito lá ao longe, o contraste profundo de sua terra representado pela visão de abertura e progressista de ponte Golden Gate ao fundo da baía, de onde só uma vez tinham escapado dois ou três presos, tão monstruosamente concebida fora. A Golden Gate e Alcatraz tinham sido realizados pelo mesmo povo, o seu.
A ideia nasceu aí, num desses momentos em que havia algumas nuvens cinzentas e tristonhas, quando de repente o sol irrompeu pelo meio delas, azulou o mar e enverdeceu as colinas. Alcatraz brilhou subitamente no meio do azul e parecia ameaça. Com o sol, a ideia, o raio, o trovão. Sim ia arranjar um correspondente na internet a quem contar os seus pensamentos mais íntimos. Mas tudo fechado a sete chaves de olhos indiscretos e persecutórios.

PEPETELA 115pp DOM QUIXOTE 2007 

Pepetela, uma das figuras representantes da literatura angolana, senão mesmo a maior figura que representa a literatura angola. O grande autor de romances históricos reconhecido com o Prémio Camões 1997, brinda-nos com um livro de linguagem pouco fora da que nos acostumou em seus livros – O uso de nomes nacionais. Um livro simples de interpretá-lo.
O livro O Terrorista de Berkeley, Califórnia narra a história de uma figura solitária, Larry. Que era um jovem dotado de poder activo. Pois com notas altas tinha terminado o mestrado numa das faculdades que não admitem qualquer um estudante. Faltava defender o trabalho final. Nancy, uma de suas professoras mais simpática, a que orientava sua tese, tinha-lhe sugerido fazer imediatamente o doutoramento e que, quanto ao apoio financeiro ela poderia desviar dos fundos da Universidade da Califórnia ou Cal como era conhecida. Larry pouco pensava nisso. Para ele, seria apenas certificado de enfeites e tinha muito para descobrir. Apaixonado pela velha matemática e pela informática, ambas áreas de sua formação, sua única linguagem eram as equações. É muito comum as pessoas que muito bem estudam e têm óptimas notas serem tão solitárias. Pois Larry não passava desse tipo. A sua esbelta namorada estudante de Sociologia da mesma Universidade entendia-lhe pouco porque falavam línguas diferentes. Soraya é mais voltada em problemas sociais e matemática é fora de questão, assim como Larry que pouco se importava com a sociologia. Chegaram a terminar quando Larry a encontrou num envolvimento sexual com a sua colega de quarto. Que estranho não é? Opções sexuais. Para Larry isso não foi problema. O problema foi a traição que para ele é imperdoável.

Larry tinha um amigo morador de Rua, Tom, um afro-americano que passou a chamar-lhe de seu filho branco.
Larry tinha muito para desabafar. A namorada, as ideias de mandar foder o mundo todo criando uma bomba, mas não tinha com quem desabafar. E o Tom?! Há conversas que não têm a ver com os pais.
Decidiu então chamar-se por Tomson. Sem ninguém para desabafar sobre suas ideias criou um correio electrónico seguro para Tomson com quem passou a conversar. Já tinha defendido o seu trabalho final. Os serviços secretos estão sempre atentos na internet quando nas conversas dos internautas aparece as palavras bomba, explosivo, Al Qaeda, Asnobush ou Bin Laden. Larry, decidiu então deixar de enviar emails com tais palavras a partir do computador pessoal e passou a enviá-los pelos computadores da Universidade e não mais para Tomson. Agora para Brad. Era uma dor de cabeça na informática e por consequências ninguém conseguia entrar no seu email. Mais tarde as conversas eram de colocar as bombas em lugares especiais como à ponte Golden Gate. Larry e Brad só não davam conta de que no governo já havia uma equipa em investigações que até preocupou a central. É uma linda novela para quem é apaixonado por personagens esquisitas e solitárias. No entanto só não gostei de como a história terminou. Chegou ao fim com a morte do tão admirado até mesmo pelo decano da Cal. A morte de Larry. Mas ainda assim quero vos sugerir a dar uma boa lida nessa novela e terão mais detalhes ainda.


[RESENHA] AS AVENTURAS DE NGUNGA - PEPETELA

21:35:00

Sinopse: O Ngunga não ia ser livro. Eu estava no Leste e estava a fazer um levantamento das bases do MPLA, pela primeira vez ia-se saber quantas bases havia, quantos homens havia, quantas armas…eu ia de base em base e ao mesmo tempo acompanhava o ensino, dava uma ajuda aos professores com os manuais de matemática que eram da Ex RDA, demasiado modernos, e os professores tinham dificuldades com eles, comecei também a aperceber-me que os miúdos só tinham os livros da escola para ler o português, conclui que era preciso fazer textos de apoio, é aí que começa o Ngunga. Eram textos muito simples que pouco a pouco se iam tornando mais complexos. Como ainda assim não era suficiente os textos eram traduzidos para Mbunda e depois eu tentava dar-lhes regras gramaticais reescrevendo o Mbunda, assim os miúdos podiam aprender a ler na sua língua e recorrer a ela sempre que tivessem dificuldade nalguma palavra em português. Quando acabei cheguei à conclusão que aquilo era uma estória, dei-lhe um fio condutor e mais tarde decidimos publicá-lo. – É assim que o próprio autor nos conta como surgiram, em livro, as Aventuras de Ngunga.


PEPETELA 59pp DOM QUIXOTE 2002


Terminei agora mesmo de ler as aventuras de um guerrilheiro adolescente de treze anos de idade. As Aventuras de Ngunga, de Pepetela.
O autor traz-nos um corajoso personagem e ingénuo. Uma narrativa histórica com um espaço angolano marcado pelas guerras coloniais, pelas ocupações dos portugueses em território angolano.
A história leva-nos no tempo ao lado de Ngunga, um adolescente de treze anos de idade, órfão, que tão cedo perdeu os pais na guerra e sem ninguém para cuidá-lo apareceu a avó Ntumba que lhe deu abrigo e obrigou as filhas a passarem a dar-lhe comida mas estas resmungavam alegando que trabalhavam para elas e maridos mas pela ordem da mãe cediam. Comida entregue de má vontade nunca é bem-vinda ao estômago, não é? Mas o rapaz insistia pela fome havia no quimbo devido a guerra. Ngunga foi acolhido pelo guerrilheiro Nossa Luta quando Ntumba morreu. Nossa Luta cuidava bem do rapaz que quando este feriu-se, obrigou-o a ir ao camarada socorrista porque Nossa Luta tinha de ir ao combate e tornaria impossível levá-lo ao médico.
Ida que levou dia para chegar e até ser socorrido. No mesmo dia naquele kimbo teria uma festa pelo corte do cordão umbilical de um bebé que tinha nascido e o socorrista sugeriu ao Ngunga, como criança que era, não perderia festas. Gostava de passear, observar os pássaros, a natureza, mas nunca sequer tinha visto uma escola, tinha tido um professor a ensiná-lo a ler.

A festa ao final, Ngunga tinha que ir, mas lembrou-se onde ir se haviam apenas duas pessoas que dele gostavam? Nossa Luta e Imba. Nossa Luta estava distante e Imba era uma criança menor que ela e pouco suportava-lhe pelas imitações que nele fazia.
Decidiu sair e ir à procura de Nossa Luta mesmo o Kimbo em guerra, passava dias e sem comida aparecia velhos em ofertas de abrigos para este servir-lhe nas lavras mas só eram maus tratos que para o rapaz todos adultos eram más pessoas. Só as crianças eram boas. Continuou com a sua viagem de vários dias e os povos admirados com um garoto de treze anos que viajava sozinho, alguns davam-lhe comida e continuava a sua viagem. Quando lhe perguntavam aonde ia, respondia que ia ver onde o rio nasce. Se insistiam respondia querer ver o mundo até que chegou à Secção de Guerrilheiros onde estava Nossa Luta mas a notícia lhe foi péssima. Tinha morrido no combate. O garoto chorava porque todos eram maus e só ele era bom. Ficou sozinho até que o comandante apresentou-lhe ao professor União que se tornaram grande companheiros mas a guerra trouxe-lhe o Luto que ia-lhe transformar num herói sem nome.

Um adolescente apaixonado por outra de treze anos mas o amor impossível trouxe-lhe revolta porque Uassamba era casada. Foi vendida pelos pais a um velho que possuía lavras e mais três mulheres.
A revolta de mudar o mundo matou Ngunga que o povo estava a conhecer como herói, pois matara o chefe da PIDE com a sua própria arma. Ngunga matou o nome e quis desaparecer, mas este foi-se com outro nome. Que nem as árvores, os pássaros, as estrelas sabiam. Nem o narrador dessa bela história. Mas sei que saberás se ledes essas Aventuras de Ngunga.

Uma linda literatura infanto-juvenil para todas as idades. Uma obra nacional de referência.

ISOLANDO-ME

18:48:00

Fiz do meu quarto o meu mercúrio, o meu planeta mercúrio
O mundo afora é um júpter, é tão extenso que só oiço o seu murmúrio
Pareço-me tão só no mercúrio, mas de tanto feliz não me julga solitário
Não me julga não, pois, mesmo não fazendo parte de júpter, com ele sou solidário
                                                                               
Se eu saia do meu mercúrio? Talvez estranho
Pois só o único culpado por ter-me solitário e colado no mercúrio com estanho
Vibro-me de tão feliz, eu que sou eu mesmo em verdade
Enquanto o mundo minta-se eu desdenho a sua realidade

Todavia, por vezes choro quanto as bagunças sem pejo
O que o júpter oferece para as crianças? Não sabeis o meu almejo
Não sabeis o quanto desejo nem sabeis o meu medo

Elas tão inocentes e o júpter dando-lhes à mágoa ó credo (...)!

MEU QUERIDO AMIGO

18:46:00

Tu és um amigo, amigo, tu és meu amigo
Há alguma comparação que eu possa fazer?
Se houvesse colocaria-te em perigo
Mas só penso no futuro com prazer

Hei-de ser a mesma quando ires para o outro lado do país?
Tenho tanto medo de perder-te como amigo, tanto mesmo
que nem mais quero viver o amanhã e não é ser chorona como a Araújo, a Taís
É que é mesmo tão confuso esperar o futuro com prazer e noutrora não o querer ao esmo

Ainda com medo do futuro, amigo, quero o presente como o último tempo, pode calhar
Quero vive-lo só contigo e bem pertinho

Por mim não quero mais o futuro porque acabaram-lhe de emporcalhar.


 
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